terça-feira, 14 de junho de 2011

Os órfãos da invasão José Alencar


Manaus, junho de 2011. Mais um mês que vai ficar marcado pelo conflito de terras em uma cidade que cresceu à base da invasão e que ainda cresce dessa forma... Ontem, fazendo uma reportagem na invasão José Alencar, fiquei impressionado com algumas coisas que aconteceram.

Primeiro: a quantidade de mulheres e crianças. Todas colocadas a frente. Uma intenção clara de mostrar à imprensa toda a “fragilidade” das pessoas que estão lá.

Segundo: cerca de 400 pessoas reunidas, cantando o Hino Nacional, louvores e músicas religiosas. Uma forma de mostrar à sociedade que ali, acima de tudo, estão cidadãos e filhos de Deus.

Terceiro: a determinação de todos em lutar pela terra invadida. A prefeitura ofereceu caminhões para remover aqueles que estivessem dispostos a sair e até o final da manhã, ninguém cedeu. Mostra que eles estão unidos e realmente determinados a permanecer no local e ir para o confronto direto se for necessário.

Por último e a que mais me impressionou: não apareceu um político querendo apadrinhar os invasores, como já aconteceram muitas e muitas vezes. Nem vereador, nem deputado, nem apresentador de programa sensacionalista com fim eleitoreiro, ninguém...

Será que nossos políticos criaram uma consciência de que a cidade não comporta mais esse tipo decrime? De que defender invasores é o mesmo que defender criminosos??? Pode até ser, mas infelizmente, não consigo ser tão otimista...

Acredito que a “omissão” (já que não ouvi rumores de ninguém se pronunciando contra) seja porque defender a invasão é se posicionar contra o governo, tanto o municipal quanto o estadual. Se realmente fossem contra, os discursos seriam mais enérgicos. Fariam mais barulho. Mas também, quem quer perder o voto de 1452 famílias que estão morando no local???

No jornal de hoje, mais uma denúncia de invasão, agora no Santa Etelvina. Começo tímido, apenas com 40 famílias. Número bem menor que a invasão José Alencar, que já começou com centenas de moradores. Mas nas duas um fato curioso: ambas surgem em um período de discussão sobre o Plano Diretor da Cidade de Manaus, onde o poder público começa a redefinir as formas de ocupação urbana. Como ficam as discussões com esses novos dados???

Mas voltando à José Alencar, acho muito difícil retirar os moradores do local. Vai ser necessário muito planejamento e a certeza de que é preciso ir às últimas conseqüências, tanto para retirar quanto para evitar que voltem. Será que alguém está disposto a assumir a bronca das mortes que acontecerão???

Sei que uma coisa é certa, quando morrer o primeiro, todos esses que se omitiram vão aparecer na mídia e dizer: “É um absurdo. Ali morreu um pai de família, que só queria conquistar um pedaço de chão!!!”

2 comentários:

  1. Léo parabéns pelo texto, infelizmente a "Industria da Invasão" é cultural =( Há pessoas que precisam de um lugar para morar, sim isso é fato, mas não se pode fechar os olhos para aqueles que ocupam a terra para vendê-la em seguida e assim viver desse tipo de renda ilegal. Milagre não aparecer nenhum político mesmo mas deve ser porque o "Santo (s)" está(ão) discutindo o PDC na casa do Povo. Bjus Lauristela Rocha - Jornalista

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  2. Pois eh, algumas pessoas q estão por lah, tb comandaram outras invasões e acabam vivendo das custas de quem realmente precisa.... por isso q em situações como essas, os líderes deveriam ser fichados na polícia pra q tivesse o registro!!! Agora q os políticos me surpreenderam... ah, me surpreenderam!!!
    Obrigado por estar acompanhando!!!

    Bjus

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