segunda-feira, 16 de maio de 2011

Quantas gramas vale uma vida???

Para quem acompanha o noticiário local, ficou sabendo do incidente que aconteceu sábado, na escola de samba A Grande Família.
Há um mês, demos início ao Forrozão da Família, para movimentarmos a quadra antes do período carnavalesco e oferecermos uma opção de lazer para o povo da Zona Leste. Mas infelizmente, o projeto que tinha tudo pra dar certo, se encerra em circunstâncias trágicas.
A festa estava bonita, casa lotada pela 1ª vez, banda tocando, do jeito que a moçada gosta. De repente, tiros na escuridão... Um corpo cai.
Apenas a dois metros de distância, meu instinto foi apenas o de correr. Assim como todos os outros presentes. Quem não correu, se jogou no chão. Se arrastando ou engatinhando entre uma população desesperada. Mulheres choravam, outras prestes a desmaiar...
Em seis anos de experiência jornalística, tive a oportunidade de cobrir vários crimes. Vi corpos jogados em valas, cobri funerais. Mas pela primeira vez estive presente no momento da morte. E foi chocante.
Ainda não consigo me acostumar com o ponto que a humanidade "evoluiu". Depois que os disparos terminaram, cinco ao todo, uma nova correria. Dessa vez, armados de celulares, todos queriam registrar o último suspiro da vítima. Ninguém procurou identificar o atirador. Atenção voltada apenas para o corpo. O assassino não teve nem dificuldade para fugir, driblando curiosos, a segurança do local, a polícia do lado de fora.
Flashes, vídeos e a banalização da vida. Antigamente, em uma situação como essa, a primeira reação era ligar para a ambulância ou para a polícia. Hoje, isso fica pra depois. Twittar um crime ou postar uma foto do morto se tornou muito mais importante.
Em poucas horas, a polícia já identificava a vítima e o possível assassino. A história já era esperada. Mais uma vítima do tráfico de drogas. Viciado, tinha dívidas com traficantes e acabou assassinado por conta disso. No mundo das drogas, quem não paga não vai pro SPC, vai para o céu (ou o inferno)...
Menos mal que o atirador entrou na quadra com a intenção de matar uma única pessoa. E cumpriu o objetivo... Mas quantos não poderiam ter sido alvejados??? Quantas gramas vale uma vida???
Como a arma entrou na quadra continua sendo um mistério. Seis seguranças, PM do lado de fora, soldado a paisana dentro da quadra e nada foi suficiente para impedir o ato.
A perícia que foi ao local informou que outro corpo estava esperando remoção no Centro da cidade. Provavelmente mais uma vítima do tráfico.
No sábado os jornais estampavam os dois crimes e mais um que havia acontecido na Zona Norte. Todos iguais. Jovens assassinados com cinco tiros. Três vítimas das drogas...
Quando paro pra analisar, acho até bom. Se todos os traficantes se matasse, o comércio chegaria ao fim. O problema é que os grandes estão longe de morrer. Morrem os aviõezinhos, morrem os pé de chinelo, morrem muito mais aqueles que não tem nada a ver com a parada.

2 comentários:

  1. Faltam palavra pra comentar uma situação dessas, a experiência de estar próximo a tudo e a impotência em dar uma solução.Apenas a tristeza de um projeto bonito encerrado por causa da "evolução". Evolução e progresso ainda não são sinônimos. Enquanto não resolvermos problemas morais, muito mais encruados no que chamamos de "humanidade", a evolução será apenas aquela idealizada por Darwin. Fora disso, estamos cada vez mais indo pro buraco.

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  2. Lamentável. Níguem arma uma festa, esperando tal ocorrido, niguém vai pra uma festa, esperando correr risco de vida. É complicado, e cada vez mais, as soluções se diluem a cada momento nem um objetivo é alcançado, aliás, nem para o matador, que não terá sua dívida quitada com a morte de uma outra pessoa.
    Talvez Fierro, esse monopólio do crédito e débito nos cartões, fosse uma saída, com uma diminuição do dinheiro circulando nas ruas, o tráfico ia sofrer uma considerável queda. Afinal, não é quaquer um que pode ter uma maquininha da Cielo em casa. Mas, é só mais uma solução a longo prazo. Talvez a solução venha mesmo a passos lentos, com a morte de zilhares de pessoas e só talvez assim, a humanidade por mais que não seja alfabetzada ou educada, deixe o extinto humano (e não animal)falar mais alto e repudie a idéia de matar o próximo.

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